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[Coluna] A Ilha Anchieta no mapa dos direitos humanos = (14) = Mario Jun Okuhara

14/08/2025

Ilha de Anchieta onde imigrantes japoneses kachigumi foram internados à força logo após o fim da guerra
Ilha Anchieta onde imigrantes japoneses do kachigumi foram internados logo após o fim da guerra

Por Mario Jun Okuhara

Nos dias 9 e 10 de agosto, o Parque Estadual da Ilha Anchieta, em Ubatuba, preparou a Festa das Múltiplas Histórias da Ilha Anchieta e do Senhor Bom Jesus. O evento combinaria memória, cultura e espiritualidade, reunindo apresentações de kendô, capoeira e congada de bastões, exibição de documentário, rodas de conversa, missa e procissão. Infelizmente, o mar revolto impediu a realização da programação e impossibilitou a nossa ida à ilha.

Ainda assim, mais do que uma celebração, a proposta do evento inova ao reafirmar a Ilha Anchieta como espaço de diálogo e preservação da memória dos diversos grupos que moldaram sua história: japoneses, búlgaros, indígenas, negros, caiçaras e descendentes dos envolvidos na rebelião do presídio em 1952.

A associação Osaka Naniwa-kai preparou a doação de uma armadura de kendô (bogu) ao museu da Ilha Anchieta em homenagem aos sete professores de esgrima japonesa injustamente presos entre 1946 e 1948, além da apresentação de técnicas de espada.

Após o pedido oficial de desculpas do governo brasileiro à comunidade nipo-brasileira, em 25 de julho de 2024, a Ilha Anchieta ficou definitivamente marcada no mapa mundial dos Direitos Humanos. Hoje se sabe que imigrantes japoneses inocentes foram torturados e submetidos a maus-tratos, mesmo durante o período constitucional do governo Eurico Gaspar Dutra, em 1946 — realidade exposta graças aos relatos trazidos por Tokuichi Hidaka no documentário Yami no Ichinichi – O Crime que Abalou a Colônia Japonesa no Brasil (https://youtu.be/kbaehRBjQ98) e na audiência pública promovida pela Comissão da Verdade Rubens Paiva, em 2013.

É importante ressaltar que a narrativa do conflito vitorista-derrotista e do envolvimento da Shindo Renmei está sendo revisada pelo Parque Estadual da Ilha Anchieta, pois a repressão e perseguição política sofridas pelos imigrantes japoneses precisam ser transmitidas às novas gerações. Concordo plenamente: como escrevi anteriormente neste jornal, esse conflito precisa ser revisto dentro da comunidade nipo-brasileira, afastando explicações simplistas que desviam o foco da violência do Estado contra os imigrantes japoneses durante e após a Segunda Guerra Mundial.

Daqui para frente, é essencial fortalecer a conexão entre cultura, direitos humanos e a própria história do Brasil. A Ilha Anchieta é um ponto de partida poderoso para isso: ali, o silêncio das ruínas dos campos de concentração guarda os ecos de imigrantes japoneses injustamente presos e perseguidos, marcados por tortura e isolamento. Preservar e transmitir essas vozes não é apenas um dever de memória — é garantir que a verdade atravesse o tempo e se transforme em compromisso com a justiça e a educação.


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