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Coluna: Animação "Eu e Meu Avô Nihonjin": Uma história comovente de reconciliação entre avô e neto; Estreia em outubro, imperdível para a comunidade nipo-brasileira

19/08/2025

Pôster do filme
Pôster do filme

Empresa líder da animação brasileira assume o desafio

“Pouca gente no mundo sabe que tantos japoneses e seus descendentes vivem no Brasil. Claro que imigraram italianos, portugueses e muitos outros, mas nenhum grupo sofreu tanto com as diferenças culturais como os japoneses. O que significou essa imigração, o que aconteceu e o que ainda acontece, nós tentamos mostrar no nosso filme por meio do diálogo e da transformação da relação entre avô e neto.”

Assim respondeu com calma o produtor Kiko Mistrorigo (63 anos), quando lhe perguntei diretamente “Por que escolher a imigração japonesa?”. Enquanto ouvia, sentia um profundo respeito pela curiosidade e boa vontade que a sociedade brasileira dedica aos nipo-brasileiros.

Kiko fundou, em 1989, juntamente com Célia Catunda, a produtora de conteúdos infantis PinGuim Content. Desde então, já produziu e dirigiu mais de 400 horas de programas de animação para TV. A empresa é considerada líder da animação brasileira, sobretudo em animação infantil.

Entre seus trabalhos está a série totalmente brasileira “Peixonauta”, que alcançou o topo de audiência no canal a cabo Discovery Kids na América Latina. Esse novo longa-metragem também é uma produção da PinGuim Content.

“Minha família é originalmente de Ponta Grossa, no Paraná, e ainda tenho parentes em Londrina e Maringá. Eu cresci em São Paulo, onde era normal ter amigos nipo-brasileiros. Mas eu não conhecia bem a história deles. O brasileiro médio também não conhece, e o mundo menos ainda”, explicou Kiko.

E apontando para a Sra. Kyoko Hirano (39 anos), que o acompanhava, completou: “Por isso pedi para que ela fosse a consultora do filme”.

Kyoko comentou: “Sou casada com um sansei e, junto com ele, aproveitamos esta oportunidade para estudar uma história da imigração japonesa que até então não conhecíamos. Foi uma grande aprendizagem. Percebemos que a nossa visão sobre as disputas da Shindo Renmei era superficial. Tanto eu como meu marido sentimos que, com esse trabalho de supervisão, recebemos informações que enriquecerão nossa vida daqui em diante.”

Kiko, Kaneko, Catunda e Hirono
Kiko, Kaneko, Célia, Kyoko

Baseado no Jabuti “Nihonjin”

Retratar, através de uma família de imigrantes japoneses –culturalmente mais distantes do Ocidente– os conflitos de gerações e choques culturais que marcam o Brasil, maior país de imigração do mundo, em forma de animação (linguagem em que o Japão se destaca), é uma iniciativa única.

O filme é baseado no romance “Nihonjin”, de Oscar Nakasato, vencedor do Prêmio Jabuti de 2012 (a mais importante distinção literária e editorial do Brasil, equivalente ao Prêmio Akutagawa ou Naoki no Japão). A adaptação transformou o tema robusto da obra em uma narrativa acessível também para crianças.

A direção é de Célia Catunda (63 anos), conhecida pelas séries infantis “Peixonauta” e “O Show da Luna!”.

Em visita à redação, Célia explicou: “Mesmo no Brasil, quis mostrar os sentimentos e a trajetória de um avô que insiste em permanecer japonês, em contraste com o neto, criado como brasileiro. Nos desencontros do cotidiano e nas descobertas que isso provoca, busquei retratar a complexidade da identidade em uma família imigrante”.

A história acompanha o menino Noboru (10 anos), que pergunta ao avô Hideo, sempre calado, sobre o passado da família, e aos poucos descobre sua origem como imigrantes. Revela-se então a existência de “outra família” que o avô nunca mencionara, delineando a ruptura entre gerações e culturas.

Trata-se de apresentar a caminhada de uma família imigrante como uma narrativa brasileira contemporânea e acessível às crianças. O olhar que reconstrói a sobreposição cultural como riqueza é, de fato, profundamente característico do cinema brasileiro.

Uma cena do trailer oficial (EU E MEU AVÔ NIHONJIN l Trailer Oficial) (https://youtu.be/LN_kFvDu1rk)
Uma cena do trailer oficial (Eu e Meu Avô Nihonjin l Trailer Oficial) (https://youtu.be/LN_kFvDu1rk)

Kenichi Kaneko: “Um papel moldado pelos 65 anos no Brasil”

Segundo Célia, o avô protagonista “parece duro e ríspido no início, mas, ao se aproximar do neto, vai se transformando. Descobrimos que, na verdade, era uma pessoa afetuosa e acolhedora”.

Quem dá voz ao avô é o ator e pintor Kenichi Kaneko (90 anos, natural da província de Kanagawa). Ele comenta: “Na época da segunda geração, havia uma tendência de esconder a identidade japonesa e mostrar o quanto se era brasileiro. Mas os sansei já cresceram naturalmente como brasileiros e demonstram interesse genuíno pelo que é japonês. O filme retrata isso muito bem”.

“Pessoalmente, hoje sinto mais fortemente que meu país é o Japão. Quando jovem, queria me integrar rápido à sociedade brasileira. Mas agora percebo: sou japonês. Talvez até mais japonês que os próprios japoneses do Japão. Por isso esse papel me caiu tão bem. Depois de 65 anos no Brasil, sinto que essa experiência foi aproveitada”.

O neto é dublado pelo jovem ator Pietro Takeda, compondo uma camada de vozes que reflete várias gerações e culturas.

Kaneko descreve: “Foram várias sessões de gravação, e a cada vez o filme mudava um pouco. Gravamos as vozes antes mesmo de as imagens serem animadas. Isso deu muita naturalidade. Às vezes dávamos ideias, opiniões e na sessão seguinte já havia mudanças no roteiro ou na interpretação. Nunca participei de um processo assim”.

O produtor Kiko confirma: “Começamos pelas vozes. Depois, adaptamos os desenhos. No início seguimos o roteiro, mas aos poucos novas ideias surgem e vamos ajustando. Esse processo se repete várias vezes. Dá muito trabalho e leva tempo. Mas compensa muito!”.

Foram seis anos de desenvolvimento, até finalmente chegar ao lançamento em 2025.

Cena em que o neto Noboru é advertido pelo avô Hideo
Cena em que o neto Noboru é advertido pelo avô Hideo

Um filme digno dos 130 anos de amizade Brasil-Japão

O tema delicado da memória imigrante e das relações familiares foi transformado em imagens com a suavidade própria da animação. Mas o desafio técnico foi grande.

A direção de arte inspirou-se no universo do pintor nipo-brasileiro Oscar Oiwa (59 anos, nissei). Nascido em São Paulo, estudou na Universidade de Artes de Tóquio e desde os anos 1990 vive em Nova Iorque. Reconhecido internacionalmente, suas obras fazem parte do acervo do MoMA (EUA) e do MASP (Brasil). Sua pintura combina paisagens urbanas e naturais em larga escala, mesclando realidade e fantasia.

No filme, sua estética guiou o uso de traços manuais em 2D, misturando luz e sombra tipicamente brasileiras com linhas e vazios da tradição pictórica japonesa. Isso exigiu uma extensa pesquisa e um processo de desenho detalhado para cenários e objetos. O volume de quadros e a carga de edição foram de nível altíssimo.

Assim, esse longa animado, que conecta Brasil e Japão, não esconde a dor da imigração, mas preserva com delicadeza a esperança transmitida entre gerações. Tornou-se, sem querer, um presente da comunidade nipo-brasileira e do Brasil ao Japão – um filme digno de celebrar os 130 anos de relações diplomáticas Brasil-Japão.

Tanto Kiko quanto Célia reforçam: “Gostaríamos que toda a comunidade nipo-brasileira assistisse. Temos certeza de que vão gostar.” Seja indo ao cinema ou organizando sessões comunitárias, vale a pena difundir a obra.

Kaneko conclui sorrindo: “Espero que filmes assim continuem a serem feitos cada vez mais”.

(Masayuki Fukasawa)


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