《Coluna do Repórter》Como nasceu o Matsuri Dance?; O charme que atraiu Nanase Aikawa; Desafio da transmissão da cultura japonesa aos jovens
Organização que começou não com um bunkyô, mas com aulas de karaokê
A região norte do Paraná, onde há o segundo maior número de nipo-brasileiros no Brasil depois de São Paulo, é uma região realmente misteriosa. Muitos dos imigrantes do Japão para o Brasil eram famílias de segundos e terceiros filhos de fazendeiros. No período pré-guerra, eles se estabeleceram principalmente na região Noroeste de São Paulo, conhecida como "terra natal dos imigrantes", bem como nas regiões Paulista, Alta Sorocabana, Mogiana e Registro.
Quando o desenvolvimento de cada região foi concluído e não havia mais terras novas, os filhos mais velhos nisseis que nasceram e cresceram nessas regiões permaneceram lá para formar o ramo principal brasileiro, os segundos e terceiros filhos partiram para o norte do Paraná em busca de novas terras de colonização logo após o fim da guerra, e os filhos mais novos, que ganharam estabilidade financeira, mudaram-se para a cidade de São Paulo para estudar e ingressar em universidades prestigiosas como a Universidade de São Paulo.
Como resultado, um número impressionante de colônias nipo-brasileiras foi criado nas regiões de Assaí, Uraí, Londrina até Maringá, no norte do Paraná, e cerca de 70 entidades nipo-brasileiras continuam suas atividades até hoje. Representam 16% das 430 entidades nipo-brasileiras de todo o Brasil, ou seja, 1 em cada 6 é do Paraná. Nas comunidades nipo-brasileiras de todo o Brasil, organizações chamadas "bunkyôs" foram criadas, atingindo seu auge nos anos 70, e desde então, à medida que os membros gradualmente se tornaram nisseis e se afastaram da língua japonesa, as organizações envelheceram e tendem ao declínio. Isso porque há poucos membros jovens se juntando.
No entanto, entre essas organizações, uma das entidades nipo-brasileiras mais bem-sucedidas, que foi fundada desde o início com foco nos jovens e expandiu suas atividades, é provavelmente o Grupo Sansey, de Londrina (representante Mity Shiroma). No sentido de que não é uma organização "bunkyô" tradicional, mas sim uma que se expandiu e desenvolveu originalmente a partir de aulas de karaokê, ela se distingue das entidades nipo-brasileiras anteriores.
Grupo Sansey nascido no 80º aniversário da imigração
O Grupo Sansey foi fundado em 1988, por ocasião do 80º aniversário da imigração japonesa, por 20 pessoas da geração sansei na casa dos 20 anos, filhos de famílias nisseis estabelecidas no norte do Paraná. Dez anos depois, em 1998, no 90º aniversário da imigração, iniciaram a peça musical de karaokê sobre imigração "Saga dos Imigrantes", e em 2003, comemorando o 15º aniversário do grupo, iniciaram o Festival de Londrina com foco no matsuri dance.
O 21º Londrina Matsuri, realizado de 5 a 7 de agosto com Nanase Aikawa como convidada especial, mobilizou cerca de 30 mil pessoas. Segundo a assessoria de imprensa, superou a expectativa inicial dos organizadores de 27 mil pessoas, sendo um grande sucesso, e o impacto econômico chegou a R$ 6 milhões (170 milhões de ienes), o que é impressionante. Isso é realizado por um grupo de 180 pessoas centrado em jovens.
Muitos líderes de bunkyôs de várias regiões e até mesmo de associações de províncias se preocupam diariamente com questões como "Como podemos transmitir a cultura japonesa aos jovens?" e "Como podemos atrair jovens para as atividades nipo-brasileiras?"
Por ocasião da vinda de Nanase Aikawa ao Brasil, aproveitei para cobrir o Londrina Matsuri organizado pelo Grupo Sansey após muito tempo e pedi para Mity (62 anos, sansei) relembrar a história do grupo. Certamente a experiência e o caminho percorrido pelo Grupo Sansey podem fornecer boa inspiração.

Como divulgar a cultura japonesa e atrair jovens?
Quando perguntei diretamente "Qual é o segredo para atrair jovens de uma forma diferente das tradicionais organizações como bunkyô?", Mity respondeu: "Como despertar o interesse dos jovens pela cultura japonesa. Como formar líderes jovens. Sempre penso nisso. Para isso, é importante ouvir as palavras dos jovens o máximo possível e apoiar o que eles querem fazer". De fato, sem ouvir a voz dos jovens, não podemos entender o que eles estão pensando.
Mity relembra: "Em 1988, no 80º aniversário da imigração, quando fundamos o Grupo Sansey com 20 pessoas, eu tinha apenas 24 anos. Conversando com colegas da mesma idade, sempre pensamos em como poderíamos herdar e divulgar a história e cultura dos imigrantes japoneses. O resultado disso são as atividades atuais".
Originalmente, ela era campeã de competições de karaokê e dava aulas de karaokê. Nesse contexto, em 1998, no 90º aniversário da imigração, nasceu a ideia de criar um musical de karaokê combinando a história da imigração desde o Kasato-maru com canções e esquetes da época, a partir de discussões entre jovens sobre "o que podemos fazer".
Enquanto o karaokê é individual, onde se canta e compete por pontos e classificações, ao apresentar musicais juntos, eles passaram de rivais a co-protagonistas. Quando realmente começaram isso, pedidos de apresentação chegaram de bunkyôs de várias regiões e foram bem recebidos.
"Aprendemos a experiência de criar cenários, adereços grandes e pequenos, e montar shows. As atividades do grupo eram indispensáveis com a cooperação dos pais dos participantes. Os pais se tornaram os primeiros a entender, e as atividades se expandiram ainda mais", diz ela.
Eu mesmo vi e senti que ao combinar karaokê e história da imigração, que antes eram separados, criou-se um efeito sinérgico, e a história da imigração entrava naturalmente na cabeça da audiência junto com as canções japonesas familiares. É uma ideia muito boa.
Aproveitando esse impulso, "No Brasil, há a tradição de quando uma menina completa 15 anos, fazer uma festa de debutante para se apresentar à sociedade. Então, também decidimos começar algo no 15º aniversário do Grupo Sansey", e durante essas discussões nasceu a ideia do festival de Londrina. "Como era uma festa de estreia, começou no Parque Nishinomiya como um local público onde qualquer um poderia participar. E eram necessárias atrações para chamar jovens ao festival, então foi concebido o Matsuri Dance. O 'bon odori' foca principalmente na oração pelos ancestrais, mas isso sozinho não combina bem com as festas brasileiras. Pensamos em como fortalecer mais os elementos de entretenimento. Daí nasceu a dança da festa, o 'Matsuri Dance'", uma ideia tipicamente jovem.

Combinando todas as artes que dominamos
"O grupo jovem do bunkyô de Maringá já fazia 'Bon Odori Jovens'. Era uma ideia de jovens que não se satisfaziam com o bon odori comum, onde a dança em si era parecida com bon odori, mas a música era J-pop. Nós também conhecíamos isso através do intercâmbio, então decidimos fazer uma dança no estilo que os jovens gostam mais, cantar com nossa especialidade que é banda ao vivo, e também incluir taiko, chegando ao estilo atual. Ou seja, para criar uma impressão marcante do 'Matsuri Dance', concentramos todas as artes e habilidades que cultivamos até então."
"No início, eram apenas 5 canções, começando com 'Gizagiza Heart no Komoriuta' que trouxemos de Maringá, e 'Shima Uta' que nós mesmos coreografamos. Foi um começo muito modesto. Mas no momento em que mudamos do bon odori para o Matsuri Dance, todos os jovens do local se reuniram na frente do palco e começaram a dançar intensamente. Vendo essa cena, senti fortemente 'É isso! Este é o nosso futuro!' Foi daí que começou", ela se lembra.
"A cada ano apresentamos e aumentamos o novo repertório do Matsuri Dance, e agora temos cerca de 40 canções. Mas atualmente, apenas 25 canções que tiveram boa reação são tocadas. Isso não é escolhido porque é de um cantor famoso, mas sim julgado de forma abrangente pela melodia, dança, reação da audiência etc. Dentre essas, todas as 5 canções de Nanase Aikawa permaneceram no repertório", ela conta.
Para não esquecer que o bon odori é a raiz do Matsuri Dance, há 3 princípios no Matsuri Dance: "Sempre fazer bon odori antes do Matsuri Dance", "Sempre incluir pelo menos uma coreografia de bon odori", "Usar J-pop".
O Grupo Sansey continuou demonstrando forte presença no campo da dança e música, conquistando 5 vitórias consecutivas na Competição Brasil Yosakoi Soran nos anos 2000.
O Jornal Nikkey começou a cobrir a partir do 2º festival em 2004, e no 3º festival, em artigo de 21 de setembro de 2005 intitulado "Entusiasmo com Matsuri Dance = Nova cultura nipo-brasileira, 10 mil pessoas dançam = Londrina", relatou: "O clímax da empolgação do local foi atingido com o Matsuri Dance, destaque do festival que começava às 20h nas três noites, e 12 mil pessoas (segundo a polícia local) dançaram em uníssono. Tornou-se um evento que demonstrou o poder do grupo jovem nipo-brasileiro Sansey, que promove a herança e divulgação da 'nova cultura nipo-brasileira' através de métodos únicos" (www.nikkeyshimbun.jp/2005/050921-72colonia.html).
Quando o repórter perguntou "Como será daqui a 5, 10 anos?", Michi declarou: "Eu quero 100% confiar tudo aos jovens no futuro. No 30º aniversário do Grupo Sansey (2018), declarei que passaria o bastão para todos no 40º aniversário (2028). Desde então, durante 7 anos, gradualmente venho entregando a gestão deste festival. Já 60% da gestão é feita pelos jovens. Se não criarmos espaço para os jovens, eles não poderão expandir como quiserem".
Matsuri Dance sendo importado de volta ao Japão?
Quando o repórter perguntou: "Recentemente, recebi reportagens do Japão dizendo que está começando a fazer sucesso no Japão um tipo de bon odori que dança ao ritmo de J-pop com dança moderna. Embora a relação causal seja desconhecida, parece como se a existência do Matsuri Dance tivesse sido reportada em programas de TV japoneses e, influenciados por isso, iniciativas similares começaram no Japão. Na verdade, Nanase Aikawa, em 3 de agosto, antes de vir ao Brasil desta vez, participou de um desses festivais de bon odori, o Festival de Bon Odori em frente à Estação Nakano e apresentou Matsuri Dance. Suas canções podem estar se tornando o eixo que conecta o novo bon odori do Brasil e do Japão. O que você pensa sobre isso, Mity?", ela respondeu assim:
"É maravilhoso. Cultura é intercâmbio. Sempre muda de forma e inova de acordo com a época. Nós concebemos o Matsuri Dance a partir do bon odori porque fomos impelidos pela necessidade de como atrair jovens para a cultura japonesa. E funcionou bem. Agora é a era da internet, mas não sabemos absolutamente onde e que tipo de influência o que fazemos pode causar. Mas, se o que fazemos pode, mesmo que um pouco, influenciar o Japão, não há nada mais feliz que isso", disse com um sorriso radiante.
Que tal incluir Matsuri Dance no final dos bon odori realizados em várias partes do Brasil? O Grupo Sansey oferece workshops sobre "como fazer Matsuri Dance". Entidades que têm dificuldade em reunir jovens, que tal entrar em contato? (Masayuki Fukasawa)