《Coluna do Repórter》"O que vocês vão fazer com o meu papai?"; 200 candidatos a residentes aguardam no Ikoi no Sono; Projeto Mirai como solução?

"O que você pode fazer com o meu pai?" "Por que não coloca o meu pai na instituição?!" - esses gritos desesperados chegam continuamente ao presidente da Assistência Social Dom José Gaspar (Kyusaikai), Izumu Honda (67 anos), que administra a instituição de bem-estar para idosos Ikoi no Sono (Jardim de Repouso São Francisco), causando-lhe grande sofrimento.
Ouvindo essa história, senti uma dor no peito. Há uma situação dolorosa em que ninguém tem culpa, e percebi uma tristeza em que, pelo desejo de desabafar esses sentimentos com alguém, acabam forçosamente responsabilizando alguém.
No Ikoi no Sono, a fila de espera para internação chega a 200 pessoas. Como algumas morrem enquanto esperam, é compreensível que as famílias cuidadoras queiram desabafar esses sentimentos dolorosos com o responsável, como mencionado no início.
Porém o Ikoi no Sono tem a realidade de operar com um déficit gigantesco de R$ 170 mil por mês em média, fazendo malabarismos para se manter. Se participar da assembleia geral e ouvir o relatório contábil, fica evidente que é uma administração como andar na corda bamba.
As taxas de internação dos residentes e as doações não cobrem os custos, e o presidente Honda pessoalmente, toda semana, junto com funcionários e voluntários, monta barracas de comida em eventos nipo-brasileiros em várias localidades, operando como uma bicicleta que precisa pedalar constantemente para complementar o déficit com essas vendas.
Segundo Honda-san, o déficit do ano passado chegou a impressionantes R$ 2 milhões. Desses, R$ 1,5 milhão foi coberto pela renda dos eventos, e os R$ 500 mil restantes vieram de doações do reembolso da Nota Fiscal Paulista.
Para obter uma renda de R$ 1,5 milhão anual com eventos, é necessário o dobro ou triplo em vendas. Considerando 2,5 vezes, para ganhar R$ 3,75 milhões em vendas, são necessários R$ 310 mil mensais. Se um teishoku de salmão custa R$ 50, precisam vender 6.200 refeições. Os voluntários estão fazendo mais do que comerciantes profissionais. Se isso não é um "esforço comovente", então o que é?
Quanto mais internos na instituição, mais funcionários são necessários, então o déficit também aumenta. Existe a dolorosa realidade de que, "embora tenham vontade de aceitar mais residentes, não podem aceitar, considerando o aumento do déficit".
Na assembleia geral da Kyusaikai de março do ano passado, foi relatado que, devido à redução de renda por não poder realizar eventos durante a pandemia, o número de residentes foi reduzido de uma média de 70 pessoas para 46 em 2022. Mas havia a perspectiva de aumentar com a retomada dos eventos em 2023. Em 2023, houve 355 pedidos de internação, mas apenas 18 pessoas puderam ser aceitas. Nessa assembleia foi relatado que as taxas pagas pelos internos e suas famílias correspondem a apenas cerca de 30% de todas as despesas. Os 70% restantes são cobertos por doações e receitas de eventos.

Mantendo ainda hoje a aspiração de Margarida Watanabe
A causa fundamental da administração deficitária está no fato de que o Ikoi no Sono continua mantendo a filosofia da fundadora Margarida Watanabe de "ajudar pessoas em dificuldades". Como aceitam pessoas que não podem pagar 100% da taxa de internação, há uma estrutura em que quanto mais internos, maior o déficit. O pavilhão para pessoas saudáveis tem mais capacidade de recepção, mas seria necessário aumentar o número de funcionários.
O estabelecimento oficial da Kyusaikai (sociedade de socorro, em tradução livre) foi em 1953, mas sua predecessora, a Katorikku Nihonjin Kyusaikai (Comissão Católica Japonesa), iniciou suas atividades em junho de 1942, durante a guerra. Excluindo cooperativas agrícolas como a Cotia Sangyo Kyokai (Cooperativa Agrícola de Cotia), pode-se dizer que foi a única organização que atuava usando o nome japonês durante a guerra.
Focando principalmente em atividades para socorrer pessoas presas pela polícia política (DOPS) e mais de 6 mil imigrantes japoneses forçados a deixar Santos, executaram todo tipo de trabalho de socorro.
No pós-guerra, foi reorganizada em maio de 1953 como uma entidade beneficente oficial e gradualmente, com o nascimento da Beneficência Nipo-Brasileira de São Paulo e várias entidades de bem-estar que podem ser consideradas organizações irmãs, concentrou suas atividades no bem-estar de idosos e estabeleceu o "Ikoi no Sono" por ocasião do 50º aniversário da imigração (1958). Tem continuado substancialmente por 83 anos socorrendo nipo-brasileiros e atualmente expandiu seu campo de atividade até o bem-estar comunitário regional.
No passado, não faltavam membros, empresários nipo-brasileiros e agricultores que apoiavam concordando com o propósito de seus altos ideais. Mas, com a morte da maioria dos imigrantes de primeira geração que apoiavam, a situação mudou drasticamente. Mesmo assim, mantêm a intenção inicial de "ajudar pessoas em dificuldades".
Entidade de bem-estar sem "martelo mágico"
Sob a Beneficência Nipo-Brasileira de São Paulo também há cerca de 4 asilos e no passado faziam bastante atendimento assistencial desconsiderando a rentabilidade, mas atualmente não é mais assim, segundo ouvi. Cobram uma quantia como taxa de internação que permite certa rentabilidade como negócio. Mesmo assim, ouvi que ainda operam no vermelho, mas, como têm o Hospital Nipo-Brasileiro como fonte de renda, podem cobrir o déficit dentro da organização.
Mas o Ikoi no Sono não tem "martelo mágico" das lendas japonesas. Se não conseguirem tudo por conta própria, não podem continuar existindo.
Acredito que este problema de "O que você vai fazer com o meu papai?" tem como uma de suas causas o fato de a Beneficência não fazer mais tanto atendimento assistencial como antes. Pessoas que não conseguem entrar nas suas instituições estão fazendo fila no Ikoi no Sono. Ou seja, está assumindo o papel de rede de segurança da comunidade nipo-brasileira.
Se ainda resta o "Fundo Jinnouchi" doado à Beneficência pelo falecido Ryoichi Jinnouchi, fundador da grande empresa de empréstimos ao consumidor Promise, do Japão, com o pedido "por favor, usem para cuidar de imigrantes japoneses desfavorecidos", penso sinceramente que poderia ser usado para esse tipo de atendimento.
No caso de imigrantes do pós-guerra solteiros sem filhos, ou isseis que brigaram com os filhos e não querem ser um fardo para eles, os que falam bem português ainda vão, mas, para os que têm dificuldades de língua, os asilos brasileiros podem ser duros. Sempre existem idosos sem ninguém para cuidar deles em qualquer época.
Se mais pessoas assim pudessem ser internadas no Ikoi no Sono, poderiam passar a velhice com tranquilidade. Pode haver a opinião de que "isso é luxo". Se disserem "não vieram sabendo disso?", não há o que responder. Sei muito bem que há a opinião de que "se imigraram para o Brasil, um asilo comum brasileiro é suficiente". Mas é exatamente por isso que o Ikoi no Sono é uma existência preciosa.
"Não toquei no dinheiro da Sonoko-san"
Quando Honda-san me disse "Não toquei no dinheiro que a Sonoko-san deixou. Não uso para cobrir déficits diários, vou usar para um projeto adequado", quase chorei.
Na assembleia geral da sociedade de socorro de 9 de março do ano passado, soube que Sonoko Yoshiyasu (1928-2022, segunda geração de imigrantes), funcionária desde a fundação, havia doado R$ 970 mil (cerca de 29 milhões de ienes) pouco antes de morrer. Fiquei emocionado, imaginando como ela conseguiu juntar tanto dinheiro com o salário provavelmente não muito alto de funcionária de entidade assistencial.
Sonoko-san nasceu em 22 de agosto de 1928 na Segunda Aliança e morreu de câncer de pâncreas em 24 de outubro de 2022. Viveu 94 anos. Do modo de vida de Sonoko-san, que permaneceu solteira toda a vida, eu sentia algo como uma atmosfera de freira.
Na ocasião, o repórter escreveu: “Diferentemente de uma pessoa comum como eu, ela provavelmente não tinha vontade de comer comida deliciosa aqui e ali, morar em um apartamento bacana e usar eletrodomésticos novos, viajar para lugares desconhecidos, assistir à TV japonesa ou se vestir bem. Sempre se disciplinou e pensava apenas nas atividades da Kyusaikai e deve ter decidido há muito tempo doar sua herança, economizando seu salário e pensão de forma constante. Senti que esse dinheiro parecia um "resumo da sua vida".
Por mais que as despesas operacionais fiquem no vermelho, o sentimento de Honda-san de não tocar nesse dinheiro me pareceu algo muito nobre.

Aprendendo com o Japão, país avançado em apoio a idosos
Honda-san diz: "Estamos avançando com o Projeto Mirai agora. Também iremos ao Japão para visitar avançados no ramo e buscar colaboradores". Os diversos serviços que se desenvolveram no Japão, país avançado em apoio a idosos, são aplicáveis também no Brasil. Com a cooperação da JICA, em outubro há planos de visitar casos precedentes e instalações de referência do projeto no Japão. Diz que visitarão a Instituição Geriátrica da Universidade Tamagawa (Tamagawa Gakuen), Centro de Recursos Humanos Silver, Keirou Nursing Home, Centro Médico de Longevidade Saudável de Tóquio, Silver College da Universidade Musashino, entre outros.
Esse projeto, em parceria com hotéis da cidade de São Paulo, planeja oferecer centro de day care, cuidados domiciliares, apoio à vida semi-independente (assisted living), cuidados continuado na comunidade de aposentados, entre outros.
O Centro de Day Care (creche) melhora a qualidade de vida através de atividades como jogos e exercícios e gestão da saúde, fornecendo um local de convívio.
O serviço de cuidados domiciliares valoriza a continuidade da vida no lar familiar, respondendo amplamente desde apoio na vida cotidiana até visitas de enfermeiras e monitoramento remoto.
O apoio à vida semi-independente é um sistema que permite aos idosos manter uma vida semi-independente recebendo o apoio necessário, fornecendo quartos individuais e espaços comuns, oferecendo apoio na vida e atividades de convívio.
O cuidado continuado em comunidade de aposentados (CCRC) abrange integralmente desde independência até cuidados de longo prazo, caracterizada pela suavidade da transição, integração de serviços médicos e de vida e planos financeiros flexíveis.

Brasil também se tornará sociedade envelhecida em 25 anos
Se esses sistemas forem introduzidos no Ikoi no Sono, será possível fornecer cuidados eficientes e altamente individualizados, levando à expansão do apoio baseado na cultura comunitária. Certamente, se tais serviços começarem, será possível atender às pessoas desde independentes até semi-independentes entre os 200 candidatos à internação. O custo também é menor comparado à internação.
No Japão, a proporção da população com 65 anos ou mais (taxa de envelhecimento) ultrapassou 20% em 2005.
No Brasil, no censo de 2022, a proporção da população com 65 anos ou mais era de 11%. Por volta de 2040, o aumento populacional atingirá o limite máximo de mais de 220 milhões e começará a diminuir. E, em 25 anos, por volta de 2050, prevê-se que a proporção da população com 65 anos ou mais chegue a mais de 22%. Ou seja, embora com quase meio século de atraso, o Brasil também se tornará uma sociedade envelhecida.
Organizações como o Ikoi no Sono se prepararem proativamente para a sociedade envelhecida é algo muito avançado no Brasil e pode-se dizer que é uma iniciativa importante.
Saber que o Ikoi no Sono, mesmo tendo dificuldades para manter a situação atual, ainda está avançando com projetos que antecipam o futuro, me fez sentir profundo respeito. (Masayuki Fukasawa)
Colaboração através de doação de materiais e nota fiscal
As principais receitas do Ikoi no Sono são doações de materiais e Nota Fiscal Paulista, segundo informado. Aceitam doações de móveis, eletrodomésticos, roupas, livros etc., e, se houver contato, um caminhão de coleta vai buscá-los (ikoinosono.org.br/wordpress/quer-ajudar/doacoes-em-materiais/).
Também recolhem móveis e eletrodomésticos que surgem quando famílias de funcionários em missão retornam ao Japão. Os itens recolhidos são revendidos pelo Ikoi no Sono para a população local, e essa receita é direcionada para as despesas operacionais. Pessoas que desejam recolhimento devem entrar em contato (Paulo doacoes@ikoinosono.org.br 11-2480-1122/WhatsApp 11-98516-4829).
A Nota Fiscal Paulista, ao registrar o destinatário da doação das notas no site da Secretaria da Fazenda do Estado de São Paulo, faz com que a cada compra que gere nota fiscal, seja automaticamente feita uma doação. Para o procedimento, consulte o site ikoinosono.org.br/wordpress/nf-paulista/cupom-com-cpf/.