Redefinir a comunidade nipo-brasileira como ativo estratégico nacional do ponto de vista da diplomacia e segurança econômica em relação à América Central e do Sul; Proposta à Primeira-Ministra Sanae Takaichi《Coluna do Repórter》
Jovem sansei retido no aeroporto de Narita
Recentemente, ouvi uma história tocante de um nikkei de terceira geração.
É um jovem que nasceu no Japão, frequentou escolas públicas e formou sua personalidade lá, mas em 2009 foi levado pelos pais de volta ao Brasil, utilizando o sistema de apoio ao retorno do governo japonês. Naturalmente, fala japonês fluentemente.
Após se tornar adulto, visitou o Japão várias vezes a negócios, mas toda vez foi detido na imigração do aeroporto de Narita e levado a uma sala separada, recebendo um tratamento frio.
Apesar de ser um tour ao Japão organizado por ele mesmo, "os parceiros comerciais brasileiros que me acompanham passam normalmente, mas apenas eu sou detido. Senti uma forte ansiedade pensando 'e se minha entrada for negada?'"
Quando ele perguntou o motivo aos funcionários da imigração, foi questionado de volta: "Você utilizou o sistema de apoio ao retorno, não foi?". Passados 16 anos desde a decisão dos pais, ainda hoje, na "porta de entrada" do Japão, uma pessoa que tem afinidade com o Japão recebe esse tratamento. Esse fato parece simbolizar que o governo japonês carece de uma visão de longo prazo na relação com a comunidade nikkei.
O Japão às vezes se refere aos nikkei como "tesouro" em um contexto histórico, mas nunca os institucionalizou como protagonistas que sustentam os interesses nacionais presentes e futuros. Essa ambiguidade se manifesta como distorções na operação prática.
Aproveitando esta oportunidade, do outro lado da Terra, gostaria de propor à Primeira-Ministra Sanae Takaichi que redefina a comunidade nikkei como "patrimônio estratégico nacional", do ponto de vista da diplomacia e segurança econômica da América Latina.
A ideia de "colaboração" apresentada no relatório de 2017
Quem já previa essa situação foi o relatório do "Conselho de Especialistas sobre Colaboração com a Comunidade Nikkei da América Latina" submetido ao Ministério das Relações Exteriores do Japão em 2017 pelo Professor Kotaro Horisaka e outros (www.mofa.go.jp/mofaj/files/000254652.pdf).
O relatório propôs claramente redefinir a comunidade nikkei de "objeto de apoio" para "parceiro de colaboração em pé de igualdade", posicionando-a como patrimônio estratégico da diplomacia japonesa. Apresenta uma perspectiva que não limita os nikkeis como existência cultural, mas os considera como base que sustenta redes diplomáticas, econômicas e humanas.
No entanto, em 2025, é difícil dizer que essa proposta foi implementada sistematicamente como estratégia nacional. A comunidade nikkei ainda é discutida dentro dos marcos de intercâmbio cultural, relações amistosas e mão de obra simples, permanecendo desconectada de áreas políticas como diplomacia, segurança nacional e segurança econômica.
No Brasil vivem cerca de 2,7 milhões de nikkeis, e, em toda a América Latina, 3,08 milhões. Isso supera a população de muitas províncias do Japão. Além disso, não são apenas um grupo de imigrantes, mas penetraram no núcleo das sociedades locais, exercendo certa influência nos campos político, econômico e acadêmico.
Por exemplo, apenas no Exército brasileiro houve até agora 10 oficiais nikkeis, sendo um tenente-general, e em todas as Forças Armadas, 23. Também houve 2 oficiais de patente de general, como o ex-Comandante-Chefe da Aeronáutica Saito Juniti, e pergunto se existe outro país assim.
Pelo menos historicamente, houve mais de 20 deputados federais (atualmente apenas 3), 4 ministros nikkeis, 2 diretores do Banco Central, incontáveis burocratas de vários ministérios, escritores famosos como Roberto Shinyashiki com vendas acumuladas de 9 milhões de exemplares (robertoshinyashiki.com.br/), a diretora de cinema Tizuka Yamasaki, artistas famosos como Fernanda Takai da banda Pato Fu, milhares de empresários e executivos nikkeis como o vice-presidente da Embraer Satoshi Yokota, e incontáveis jornalistas, profissionais do direito, entre outros.
A questão é como posicionar esse recurso humano não apenas como "história" ou "sentimento", mas como estratégia nacional do Japão.
O mundo atual não é mais uma era em que se compete apenas por poder militar ou econômico. É questionado o poder abrangente e influência através de idioma, cultura, recursos humanos e educação, o chamado "poder nacional invisível".
A realidade mostrada pela estratégia chinesa para a América Latina
Em contraste está a política chinesa para a América Latina. Segundo o texto "Institutos Confúcio no Brasil" de 28 de novembro de 2025 (https://aila.info/confucius-institutes-in-brazil/), já foram estabelecidos 14 Institutos Confúcio no Brasil, sistematizando o ensino de chinês e a divulgação cultural com base em universidades prestigiosas de todo o país. O primeiro Instituto Confúcio foi estabelecido em 2008, coincidentemente no ano do centenário da imigração japonesa.
A China, desde o mesmo período, acelerou o avanço empresarial e grandes investimentos, claramente delineando uma estratégia de penetração no Brasil que integra educação linguística, formação de recursos humanos e atividades econômicas.
Em 12 de setembro, também foi oficialmente estabelecida a "Rede dos Institutos Confúcio" (Confucius Institute Alliance). A Conferência Mundial de Língua Chinesa, principal evento global para discutir novos métodos e abordagens de ensino de chinês, foi realizada de 14 a 16 de novembro em Pequim. Esse evento contou com a participação de diretores de Institutos Confúcio de todo o mundo e reitores ou vice-reitores das instituições que supervisionam cada Instituto Confúcio.
Existe uma clara vontade nacional de formar, a longo prazo, uma camada pró-China através do idioma e cultura. Mas, colocando a mão no peito, não ouço falar da realização de uma "Conferência Mundial de Língua Japonesa".
O importante é que a estratégia chinesa não necessariamente tem a "cultura" em si como objetivo. A cultura é posicionada como infraestrutura que sustenta economia, política e segurança nacional. Se o Japão não encarar essa realidade e se acomodar na teoria tradicional de "intercâmbio de base", o declínio da influência relativa será inevitável.
O vazio político mostrado por "intercâmbio de mil pessoas"
O Primeiro-Ministro Kishida, em maio do ano passado, durante sua visita ao Brasil, anunciou um "novo programa de intercâmbio de mil pessoas nos próximos três anos". No entanto o design institucional, os responsáveis e os indicadores de avaliação subsequentes não são claros.
Em primeiro lugar, intercâmbio não se torna política apenas estabelecendo metas numéricas. Quem, em que área, por quanto tempo desenvolver, e que papel esperar no futuro. Só quando se aprofunda até esse ponto pode ser chamado de estratégia.
A origem dessa falta de direcionamento está no fato de que o Japão nunca sistematizou "a disseminação da língua e cultura japonesas no exterior" como estratégia nacional. A atitude de depender da popularidade espontânea como comida japonesa e anime pode ser eficaz a curto prazo, mas é frágil na competição geopolítica.
A comunidade nikkei é uma infraestrutura humana que conecta o Japão às sociedades locais, um "patrimônio de confiança formado ao longo de cem anos". Não seria necessário redesenhar esse patrimônio como política, conectando-o com formação da próxima geração, educação, pesquisa e circulação de talentos?
O Japão também tem iniciativas como a Fundação Japão e Japan House, mas o orçamento também é limitado e no geral é fragmentário, difícil de dizer que está integrado como conceito nacional de longo prazo.
A popularidade da cultura é efêmera. No entanto idioma e recursos humanos criam raízes ao longo do tempo. O Japão deve agora, superando o domínio do "Cool Japan", unir-se firmemente com a comunidade nikkei local para construir uma estratégia externa de longo prazo centrada na língua e cultura japonesas. Como ser compreendido pelo mundo? Com quem caminhar juntos? Chegou o momento de responder a essa pergunta como nação.
O posicionamento da América Latina mostrado pela diplomacia Abe
Em 2 de agosto de 2014, o Primeiro-Ministro Abe Shinzo, em visita ao Brasil, em seu discurso sobre política latino-americana em São Paulo (https://abeshinzo-digitalmuseum.com/pdf/20140802_SeminarSpeeches.pdf), falou de uma perspectiva centenária desde Meiji: "Quando o Japão lutava pela modernização, os primeiros a fazer tratados com o Japão em condições iguais, e depois, quando o Japão ingressou nas Nações Unidas no pós-guerra, quem nos apoiou unanimemente foram os países latino-americanos. Senhoras e senhores, eu penso: agora, quando o Japão busca ampliar seus horizontes diplomáticos, os países latino-americanos são os parceiros em que o Japão deve confiar".
O Primeiro-Ministro Abe considerava a relação com a América Latina dessa perspectiva de longo prazo em sua "diplomacia com visão global".
Do ponto de vista geopolítico, a América do Sul não é mais uma "região distante" para o Japão. Como fornecedora de recursos e também do ponto de vista da segurança alimentar, sua importância aumenta a cada ano. Considerando que é uma região onde os EUA, com Trump no poder, tentam recuperar influência erguendo novamente a Doutrina Monroe, e a realidade de que a China valoriza a América do Sul, a racionalidade estratégica do Japão reforçar relações pelos aspectos humano e cultural não é evidente?
Nesse contexto, a comunidade nikkei latino-americana, especialmente a comunidade nikkei brasileira, a maior no mundo, é um patrimônio estratégico para o Japão que outros países não podem imitar facilmente. Os mais de 2,7 milhões de nikkeis se integraram profundamente às sociedades locais, construindo confiança e proximidade com o Japão ao longo de muitos anos.
O relatório mencionado no início também posiciona os nikkeis como "ponte que conecta o Japão às sociedades locais", apontando claramente que esse acúmulo representa interesse nacional tangível e intangível.
O Primeiro-Ministro Abe captou intuitivamente esse ponto. O fato de ter visitado o Brasil como primeiro-ministro em exercício pela primeira vez em dez anos e também ter realizado uma visita à Argentina pela primeira vez desde seu avô, o ex-primeiro-ministro Nobusuke Kishi, é simbólico. O conceito de "Juntos" (desenvolver juntos, liderar juntos, inspirar juntos) que Abe apresentou como filosofia orientadora da diplomacia latino-americana é claramente herdado no mesmo relatório.
A existência da comunidade nikkei brasileira é, nesse contexto, uma das poucas vantagens assimétricas que o Japão pode ter sobre outros países.
Na América Latina, o apoio que o Japão prestou no passado, a ODA (Assistência Oficial ao Desenvolvimento) acumulada, chega a mais de US$ 30 bilhões. Isso se concretizou na cooperação agrícola simbolizada pelo desenvolvimento do Cerrado, que transformou a vasta região semidesértica chamada "terra estéril" no "celeiro do mundo", e na transferência de tecnologia vista na aquicultura de salmão do Chile, que se tornou seu maior exportador em volume no mundo.
A confiança construída por essa ODA e cooperação técnica se desgasta gradualmente se não for continuamente transmitida como resultado.
Separar o visto de quarta geração da "política trabalhista"
Pensando no futuro, uma das questões mais importantes é como posicionar os "nipo-brasileiros nascidos e criados no Japão" e ainda mais as "gerações de quarta geração em diante". No Japão, a opinião predominante é que, "considerando tendências ocidentais como a Itália ter parado de emitir passaportes para a quarta geração em diante, e os EUA terem endurecido a fiscalização sobre imigrantes estrangeiros, o tratamento especial para nikkeis deve ir até a terceira geração".
Mas pense nisso. Em termos de poder de penetração e influência na sociedade brasileira, a quarta geração em diante deveria ter maior valor. A política atual que busca deliberadamente separar do Japão a camada de maior valor realmente está alinhada com os interesses nacionais do Japão? Educar talentos internacionais já existentes na direção que beneficia os interesses nacionais do Japão para fortalecer dramaticamente o "poder nacional invisível". Isso não é interesse nacional do Japão?
Pelo menos a geração criada no Japão compreende o japonês e português, a sociedade japonesa e sul-americana como experiência de vida. Esse é um recurso humano de extremo valor para segurança econômica, diversificação da cadeia de suprimentos e estratégia anti-China.
Apesar disso, a discussão sobre o visto de quarta geração ainda está na extensão de medidas para escassez de mão de obra. Originalmente, o visto de quarta geração deveria ser redesenhado como um sistema de longo prazo que sustenta "talentos internacionais" e "segurança humana", incluindo educação linguística, ensino superior, conexão com instituições de pesquisa e empresas, e fixação regional.
Sistemas de bolsas de estudo e treinamento por governos locais também precisam ser reposicionados não como custos de curto prazo, mas como investimentos para interesses nacionais futuros.
O caso do nikkei de terceira geração retido no aeroporto de Narita é um evento simbólico que questiona se o Japão continuará tratando a comunidade nikkei meramente como "fonte de fornecimento de mão de obra" ou se a redefinirá como "patrimônio estratégico nacional".
Como institucionalizar e utilizar de forma sustentável a revitalização do poder nacional humano e cultural, não apenas poder militar e econômico? A proposta de 2017 é apenas o ponto de partida para isso. O Japão chegou ao estágio em que deve colocar a comunidade nikkei latino-americana à frente na estratégia nacional. (Masayuki Fukasawa)









