OPINIÃO: Retratar é ensinar: a proposta que já chegou ao MEC

por Mario Jun Okuhara
No dia 25 de julho de 2024, o Estado brasileiro reconheceu oficialmente a perseguição política e a repressão contra os imigrantes japoneses durante e após a Segunda Guerra Mundial. Foi um gesto de reparação de um erro histórico e de trazer paz às almas dos nossos antepassados, pelos prejuízos e humilhações que sofreram. Porém a reparação só se torna completa quando incorporada ao futuro — e isso começa pela Educação.
Por isso, defendo que o “Dia da Retratação” seja incluído no calendário escolar brasileiro, como acontece atualmente no Canadá, por inciativa da comunidade nipo-canadense.
Durante o Estado Novo do presidente Getúlio Vargas, milhares de imigrantes japoneses foram perseguidos em razão de uma política nacionalista e racista. Foram proibidos de falar a sua própria língua, cultivar seus costumes, cultura e tradições, dentro e fora de suas comunidades, espalhadas em São Paulo, Paraná e Pará. Escolas de língua japonesa foram fechadas, professores foram presos, eventos culturais foram proibidos. Gincanas, casamentos, atividades esportivas e até missas religiosas passaram a ser monitoradas por agentes públicos. O Brasil viveu uma verdadeira cruzada de apagamento cultural.
Essa história não é contada nas escolas. Os livros didáticos — quando raramente trazem algo — dedicam poucas linhas à história da imigração japonesa no Brasil e à contribuição da coletividade nipo-brasileira ao país. Em pleno ano de 2025, o brasileiro ainda não conhece a história dos imigrantes japoneses e seus descendentes.
O “Dia da Retratação” não deve ser apenas mais uma efeméride. Deve ser uma oportunidade pedagógica para refletir sobre os direitos humanos, o respeito à diversidade cultural e o papel da memória histórica na construção da cidadania. Celebrar essa data nas escolas é dar nome às injustiças. É permitir que novas gerações saibam o que aconteceu com seus avós, pais, amigos ou semelhantes. É mostrar que o Estado erra, mas também pode reparar. E que a democracia só se fortalece quando reconhece seus erros históricos — mesmo quando envolvem minorias raciais.
Depois do pedido oficial de desculpas no ano passado, iniciei uma nova fase de mobilização. Com o apoio do Centro Educacional Pioneiro, representado por sua diretora-geral, Irma Akamine Hiray, estivemos com o Ministério da Educação para apresentar uma proposta pedagógica. A proposta foi bem acolhida e encaminhada também ao Conselho Nacional de Educação e ao deputado federal Luiz Nishimori, com o apoio do ex-deputado federal Walter Ihoshi, atualmente diretor de convênios do governo estadual paulista. Um projeto de lei para a instituição do “Dia Nacional da Retratação aos Imigrantes Japoneses” será apresentado ao Congresso Nacional. Se aprovado, seguirá para implementação pelo Ministério da Educação.
Instituir o Dia da Retratação no calendário escolar não é um gesto isolado. É parte de uma proposta maior: inserir a história da imigração japonesa como parte viva da formação cidadã dos alunos brasileiros, especialmente nas escolas públicas. Um país que educa com a história de diversos povos que o formaram é um país mais justo, mais humano — e mais preparado para não repetir os erros do passado.
No fundo, não estamos apenas falando sobre os imigrantes japoneses. Estamos falando sobre como o Brasil lida com a sua própria memória. Sobre como transforma sofrimento em aprendizado. É conectar passado, presente e futuro.
A Justiça nos trouxe até aqui. Agora é a Educação que vai nos levar adiante.