O protótipo da "guerra econômica" geopolítica; A "lista de estrangeiros bloqueados" em tempos de guerra; Pontos em comum entre Roosevelt e Trump 《Coluna do Repórter》
Em 17 de julho de 1941, o Departamento de Estado americano publicou a primeira edição da "Lista Proclamada de Certos Nacionais Bloqueados" (The Proclaimed List of Certain Blocked Nationals). No ano seguinte, em 12 de maio de 1942, também foi publicada uma versão revisada.
A primeira edição foi publicada em uma época em que os Estados Unidos ainda não haviam entrado oficialmente na Segunda Guerra Mundial (antes do ataque a Pearl Harbor). Por isso, o objetivo principal era eliminar a influência econômica das forças do Eixo nos países latino-americanos. A lista incluía nomes de empresas e indivíduos considerados como tendo relações com a Alemanha nazista, Itália e Japão e estabelecia um sistema que proibia empresas e bancos americanos de fazer negócios com eles.
A versão revisada foi publicada após os Estados Unidos entrarem na guerra, e seu caráter se tornou mais voltado para o "controle econômico em tempo de guerra". Ou seja, evoluiu de uma simples lista de pressão diplomática para uma lista substancial de congelamento de ativos inimigos e sanções econômicas.
Na versão de 1941, foram listados cerca de 1.800 a 1.900 indivíduos e pessoas jurídicas. Em contraste, na versão revisada de 1942, esse número aumentou drasticamente, expandindo para mais de 5.000 casos. Os alvos se estenderam por toda a América do Sul, e especialmente muitas empresas nipo-brasileiras e teuto-brasileiras foram adicionadas no Brasil, na Argentina, no Chile, no Peru, no México e em outros países. Uma vez listadas, suas contas bancárias eram congeladas e não podiam mais realizar transações de importação e exportação.
Em outras palavras, era substancialmente uma "guerra sem armas", ou seja, uma política de contenção por meios econômicos (guerra econômica). Essa lista não era apenas uma sanção comercial, mas estava posicionada como parte da estratégia econômica e diplomática dos Estados Unidos.
O objetivo era cortar a rede econômica dos países inimigos sem intervenção militar, e ao mesmo tempo reestruturar o continente americano como uma zona econômica liderada pelos Estados Unidos. Pode ser considerado um exemplo pioneiro do uso do bloqueio econômico como extensão da diplomacia.
Essa estrutura de "guerra econômica" está sendo reproduzida com diferentes aspectos ainda hoje, após 80 anos. O método usado pelo presidente americano Donald Trump sob a política "América Primeiro", exercendo pressão sobre parceiros comerciais através de medidas de alta tarifa sobre aço, alumínio e produtos chineses, tem fundamentos comuns com a lista de bloqueio do período da Segunda Guerra Mundial. Ambos são semelhantes no ponto de usar não força militar, mas coerção econômica, visando a segurança nacional e a manutenção da esfera de influência.
O governo Roosevelt dos anos 1940 buscava impedir a penetração dos países do Eixo, e o atual governo Trump tenta frear a ascensão da China. Embora diferentes em forma, ambos fazem a política econômica funcionar como ferramenta de competição geopolítica.
Como relatado na edição de 22 de outubro deste jornal "EUA suspendem apoio à Colômbia = América do Sul reage contra Doutrina Monroe 2.0" (brasilnippou.com/ja/articles/251022-41mangekyou), o governo Trump está desenvolvendo a estratégia "Doutrina Monroe 2.0", visando eliminar a penetração econômica chinesa no continente sul-americano e recuperar a influência americana.
Essa "Lista Proclamada de Certos Nacionais Bloqueados" é um símbolo da diplomacia em tempo de guerra através de sanções econômicas e ainda mantém um significado historicamente importante como um exemplo inicial de como os Estados Unidos utilizaram o bloqueio econômico como meio estratégico. Gostaríamos de revisar mais uma vez os danos sofridos pelos imigrantes japoneses devido a essa lista negra.
Política de "Lista Negra" dos EUA e Estratégia de Bloqueio da América Central e do Sul
A segunda versão revisada da "Lista Proclamada de Nacionais Bloqueados" é uma lista extensa de 200 páginas. Os listados eram legalmente tratados da mesma forma que nacionais alemães ou italianos, e todos os seus ativos e transações eram congelados com base na Ordem Executiva nº 8389 (Ordem de Congelamento de Ativos) dos Estados Unidos.
Isso se baseava na Proclamação nº 2497 (datada de 17 de julho de 1941) do Presidente Franklin D. Roosevelt e era uma política de sanções econômicas de amplo alcance liderada pelos Estados Unidos com o objetivo de eliminar a influência econômica dos países do Eixo (Japão, Alemanha e Itália) do Hemisfério Ocidental durante a Segunda Guerra Mundial.
Na criação da lista, estiveram envolvidos o Departamento de Estado, o Departamento do Tesouro, o Departamento do Comércio, o Departamento da Justiça, o Comitê de Guerra Econômica, e o "Escritório de Coordenação de Assuntos Interamericanos (OCIAA)" liderado por Nelson Rockefeller, sendo executada como parte de uma "guerra econômica".
Como escrito em detalhes na edição de 22 de setembro de 2022 deste jornal "Personagem nascido da guerra, Zé Carioca = Filme de propaganda da Disney" (brasilnippou.com/ja/articles/220920-column), o OCIAA foi estabelecido em 1940, pouco antes da Segunda Guerra Mundial, por ordem do Presidente Roosevelt, com o objetivo de eliminar a influência das forças do Eixo na América Central e do Sul e formar opinião pública pró-americana. Era uma agência de operações externas correspondente à "guerra de informação" e "guerra psicológica" em tempo de guerra, incluindo apoio à política de bloqueio econômico (política de lista negra) e monitoramento e remoção de empresas dos países do Eixo. Tornou-se o protótipo da "guerra de informação, propaganda e psicológica" que a CIA desenvolveria posteriormente.
Durante a Segunda Guerra Mundial, os Estados Unidos tratavam a América do Sul como seu "quintal". Isso foi codificado na "Declaração de Lima" adotada na 8ª Conferência Pan-Americana realizada no Peru em 1941. Aqui foi estabelecida a defesa conjunta do Hemisfério Ocidental, declarando que qualquer ameaça ao território, segurança e paz dos países pan-americanos seria considerada uma ameaça a todo o continente e que todos os países membros se esforçariam para lutar conjuntamente contra essa ameaça.
Temendo que os países centro e sul-americanos se aproximassem do "fascismo", os Estados Unidos iniciaram na época a "Política de boa vizinhança". Através de medidas de privilégios econômicos e disseminação cultural, buscavam fortalecer a influência norte-americana e formar um bloco de países aliados. Era um acordo para que os países do continente americano lutassem unidos contra aqueles que os Estados Unidos reconheciam como inimigos (países do Eixo). A mesma lista negra era um dos meios mais práticos disso, visando "cortar as raízes econômicas dos países inimigos" através do bloqueio financeiro.
O governo Trump atualmente parece estar tentando criar uma rede de cerco na América Central e do Sul, substituindo esse país inimigo pela China.
Inclusão de Empresas Nikkeis e Japonesas no Brasil na Lista
O Brasil na época abrigava a maior sociedade de imigrantes dos países do Eixo na América do Sul. Alemães, italianos e imigrantes japoneses constituíam a maioria, e especialmente a comunidade japonesa, desde os anos 1920, estava avançando do setor agrícola para o comércio urbano com base na imigração agrícola. A lista de 1942 incluía cerca de 250 empresas brasileiras, centradas nas principais cidades como São Paulo, Rio de Janeiro, Santos, Porto Alegre e Recife, sendo que um número considerável delas eram empresas e organizações nikkeis.
Entre as principais empresas japonesas ou nipo-brasileiras, destacam-se a Mitsui Bussan Kaisha Ltda. (filial brasileira), a Mitsubishi Shoji Kaisha Ltda. (filial brasileira), Takashimaya Ltda., Osaka Shosen Kaisha Ltda., Companhia Nippo-Brasileira de Comércio Ltda., Nambei Shoji Ltda., Daido Boeki Kaisha Ltda., entre outras.
Essas empresas eram responsáveis pelo comércio entre Japão e Brasil, vendendo produtos importados do Japão (têxteis, máquinas, ferramentas, diversos) e exportando café, algodão, minério de ferro e outros produtos brasileiros.
Mesmo com uma rápida olhada na lista, pequenas e médias lojas e empresas comerciais nikkeis, como Casa Higashiyama, Casa Bra-Taku, Rinko Shokai, Hachiya Kyodai Shokai, Yamada Shoten, Fazenda Monte D'este (Fazenda Tozan), Casa Honda, Casa Okamoto, também foram visadas por realizarem transferências de fundos com o Japão, passando a ser tratadas como "capital inimigo".
Como nomes individuais, também podem ser vistos os nomes de membros representativos da sociedade conterrânea da época, como (convenção de nome japonês) Awazu Kinroku, Hachiya Sen'ichi, Ito Yozo, Iwasaki Hikoyata (proprietário do zaibatsu Mitsubishi), Kaigai Kogyo Kabushikigaisha, Kimizuka Shin, Miyasaka Kunito, Shiino Yutaka, Tsuji Kotaro, Uetsuka Tsukasa, Yamamoto Kiyoshi, entre outros.
Realidade das Medidas de Bloqueio e Resposta do Governo Brasileiro
Em resposta à publicação da primeira lista dos Estados Unidos, o governo brasileiro também rompeu relações diplomáticas com os países do Eixo após o acordo do Rio de Janeiro de 1942, adotando oficialmente uma linha de cooperação com os Aliados. Com isso, medidas como congelamento de ativos também foram tomadas sucessivamente contra empresas alemãs, italianas e japonesas no país. Especialmente em São Paulo e Paraná, onde se concentravam as atividades econômicas dos imigrantes japoneses, o impacto foi extremamente grave.
O governo brasileiro emitiu em 11 de fevereiro de 1942 a ordem de congelamento de ativos de países inimigos, o Decreto-Lei nº 4166, e organizações relacionadas ao governo japonês e empresas privadas administradas por japoneses também ficaram sob supervisão do governo federal.
Com base nesse decreto, os ativos de entidades nikkeis foram congelados, exceto organizações cooperativas agrícolas como a Cooperativa Agrícola de Cotia, que fornecia alimentos à população. Por exemplo, Banco América do Sul, Fazenda Tozan, Banco Tozan, Cooperativa Brasileira de Colonização, Bra-Taku Seishi, Kaigai Kogyo Kabushikigaisha, Hachiya Shokai, Hama Shokai, Ito Yozo Shokai, Rio Yokohama Shogin, Brascot, Toyo Menka, Amazon Takushoku, Nomura Nojo, antigo Hospital Japonês (atual Hospital Japonês Santa Cruz), entre outras principais organizações e empresas nikkeis, saíram das mãos da comunidade nikkei com base no mesmo decreto. Empresas comerciais e importadoras nikkeis prósperas foram sucessivamente levadas a um estado quase de fechamento, e houve casos em que sobreviveram transferindo a gestão para nissei ou sob nomes de locais.
Em fevereiro de 1942, foi executado o despejo forçado na rua Conde de Sarzedas, que era chamada de bairro japonês desde antes da guerra, e a partir de maio líderes da comunidade conterrânea foram sucessivamente detidos pela polícia. Nessa época, as autoridades brasileiras intensificaram a repressão com base em informações fornecidas pelos Estados Unidos. O máximo da repressão aos japoneses foi o Incidente de despejo forçado de Santos. O governo brasileiro ordenou em 8 de julho de 1943 a retirada forçada em 24 horas de 6.500 imigrantes japoneses e imigrantes alemães da região costeira de Santos.
A política de lista negra não se limitou apenas a sanções econômicas, deixando feridas profundas na posição social e ambiente psicológico da sociedade imigrante. Os imigrantes japoneses passaram a ser vistos como "inimigos em potencial" pela propaganda do OCIAA e mesmo no nível popular eram chamados de "quinta-coluna" (espiões).
Significado Histórico - Lista Negra como Guerra Econômica
Para a comunidade nikkei, esse evento foi um ponto de virada histórico que os forçou não apenas à interrupção das atividades econômicas, mas também à "redefinição da lealdade". Oscilando entre a nostalgia pelo Japão e o sentimento de pertencimento ao estado brasileiro, o recomeço pós-guerra acelerou a mudança de consciência de "imigrantes japoneses" para "nikkei".
Muitas das empresas listadas foram absorvidas pelo capital brasileiro após a guerra ou reconstruídas mudando de nome. Por trás dessa regeneração estavam as relações de confiança com a comunidade local cultivadas durante a guerra e a tenacidade dos imigrantes, que continuaram a criar raízes na sociedade regional mesmo sendo tratados como "nacionais inimigos".
A lista negra de 1942 não é apenas um documento diplomático, mas um "registro de guerra econômica" que mudou drasticamente o destino das pessoas que viveram no limiar entre a política internacional e a sociedade imigrante. Enquanto a política americana teve sucesso em conter os países do Eixo, trouxe divisão e desconfiança para as sociedades imigrantes em toda a América do Sul.
A perseguição aos nacionais dos países do Eixo pela sociedade brasileira, que começou antes da guerra, se acumulou psicologicamente, fortalecendo a crença dos imigrantes japoneses na "vitória do Japão", o que se tornou o pano de fundo dos conflitos pós-guerra entre kachigumi e makegumi.
Esse material da lista negra foi enviado no ano passado por um nikkei residente nos Estados Unidos. Seu avô havia sido bem-sucedido como comerciante no Brasil antes da guerra, mas teve seus ativos congelados durante a guerra e depois emigrou para os Estados Unidos. O descendente que cresceu lá descobriu o material ao pesquisar a trajetória de seu avô quando foram feitas reportagens sobre o pedido de desculpas do governo federal em julho do ano passado nos Estados Unidos e o enviou por e-mail para este jornal.
No pós-guerra no Brasil, a comunidade nikkei superou muitas dificuldades, incluindo a propaganda do OCIAA ao longo de muito tempo e reconstruiu novamente a confiança. A amarga memória da lista negra transmite até hoje um aspecto global da história da imigração japonesa, que foi influenciada pelos movimentos geopolíticos por trás das sanções econômicas. (Masayuki Fukasawa)








