ARTIGO: CI realiza seminário na Câmara de Comércio sobre significado da COP30 na Amazônia e perspectivas para empresas do Brasil e do Japão
A COP30 (30ª Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de 2025) será realizada em novembro em Belém, porta de entrada da Amazônia. Antes disso, em 27 de setembro, foi realizado um seminário co-organizado pela Câmara de Comércio e Indústria Japonesa do Brasil e pela ONG ambiental internacional Conservation International (CI), no qual foram discutidos seu significado para o Brasil como país anfitrião e as perspectivas para as empresas japonesas.
O seminário "COP30@Belém: Estratégias climáticas e implicações de mercado" contou com a participação de cerca de 80 pessoas. A palestrante foi Laura Lamonica, diretora de Soluções para o Clima da CI Brasil. Este artigo organiza os principais pontos de discussão da COP30 e as implicações para as empresas japonesas, centrado na palestra da Sra. Lamonica.
▪️Urgência da Crise Climática e Necessidade de Ação
No seminário, primeiro foi dado o alerta de que a Terra está se aproximando de um ponto de virada irreversível - o tipping point. A Amazônia brasileira já perdeu 17% da cobertura nativa, e incluindo a degradação, chega a aproximadamente metade. Os cientistas alertam que "a Amazônia chegará ao tipping point com mais 5% de perda", apontando que a vasta floresta tropical caminhará para a savanização, causando sérios impactos no sistema climático global.
A Sra. Lamonica enfatizou que "a inação não é mais uma opção" e alertou para a realidade de que uma diferença de apenas 0,1 grau determina eventos climáticos extremos e o colapso de ecossistemas.
▪️História das COPs e o Papel do Brasil
A COP30 é uma conferência histórica que marca mais de 30 anos desde o início do processo das COPs na Cúpula da Terra de 1992 no Rio de Janeiro, sendo realizada novamente no Brasil. O Brasil desempenhou o papel de ponto de partida das negociações internacionais e tem como tradição a participação da sociedade civil e do setor privado.
Nesse contexto, foi apontado que, "como país presidente, será testada a capacidade de unir o mundo". As negociações climáticas requerem consenso de todos os 198 países e podem fracassar com a oposição de um único país, tornando essencial uma coordenação política de alto nível. Superar essas dificuldades e mostrar uma direção clara se torna o maior desafio do Brasil como país presidente.
▪️Três Prioridades Estabelecidas pelo País Presidente
O Brasil apresenta três questões prioritárias para a COP30.
Refortalecimento do multilateralismo - Superar crises e desconfiança para tomar decisões rápidas e responsáveis.
Aceleração da implementação do Acordo de Paris - Transformar o Global Stocktake (GST=avaliação do progresso mundial) da COP28 em ações concretas.
Conexão entre ação climática e vida cotidiana - Aproveitar a realização na Amazônia para mostrar os impactos das mudanças climáticas na vida das pessoas.
Em suma, questiona-se como projetar a governança climática global e como conectar a cooperação multilateral à ação. E se será possível colocar as florestas tropicais, começando pela Amazônia, no centro disso.

▪️Amazônia (Florestas), Financiamento, Energia e Ética – Principais Pontos de Discussão da COP30
A COP30 também é chamada de "Nature COP", colocando o papel da Amazônia e das florestas no centro. As soluções baseadas na natureza (NbS, em inglês) têm grande potencial de mitigação, mas a alocação de recursos é significativamente insuficiente, sendo o financiamento climático um dos maiores focos. Na COP29, a meta foi elevada para US$ 1,3 trilhão, mas o alcance está distante, sendo desafios não apenas a quantidade, mas também o design institucional.
Ao mesmo tempo, a transição dos combustíveis fósseis para energias renováveis é inevitável e, para uma transição justa, é indispensável uma resposta que inclua garantia de empregos e justiça climática. Nesse contexto, foi apresentado o "Global Ethical Stocktake" liderado pela Ministra do Meio Ambiente, Marina Silva. O objetivo é não limitar o progresso a uma revisão meramente técnica, mas incorporar ética e equidade para aumentar a legitimidade social.
A Sra. Lamonica enfatizou: "A perspectiva ética é indispensável para a transformação do sistema social. O sucesso da implementação depende de o Brasil lidar com capacidade e responsabilidade e obter aceitação social".

▪️Agenda de Ação – Da Negociação à Implementação
A Agenda de Ação da COP30 é um dos quatro pilares, junto com negociações e reuniões de cúpula, sendo um mecanismo que reúne iniciativas de todo o mundo para conectar a ação climática à execução e expansão.
Seguindo o fluxo de mais de 40.000 empresas e organizações que se envolveram na agenda de ação nos 10 anos após o Acordo de Paris, o Granary of Solutions ("celeiro de soluções") foi lançado na Semana do Clima de Nova York, em setembro. O objetivo é tornar visíveis casos de sucesso de várias regiões, compartilhá-los após avaliação com critérios como mensurabilidade e escalabilidade, aumentando a confiança de investidores e tomadores de decisão e promovendo o scale-up de soluções.
A agenda de ação é composta por 6 áreas e 30 objetivos, cada um com "Grupos de Ativação" estabelecidos com participação de governos, empresas, sociedade civil etc. Esses grupos desempenham o papel de organizar e promover os casos apresentados no Granary.
A Sra. Lamonica indicou que a CI está acompanhando detalhes em múltiplos temas e mostrou a possibilidade de envolvimento concreto, dizendo que "as empresas também podem obter informações e se envolver".
▪️Papel do Setor Privado – Força Motriz que Apoia a Ação Climática
Para a execução da agenda de ação, é indispensável a ampla participação não apenas de governos, mas de empresas, sociedade civil, meio acadêmico etc. O presidente da COP30, embaixador André Corrêa do Lago, também enfatiza que "a implementação da ação climática depende de todos os atores da sociedade".
Aqui se destaca o empresário Dan Ioschpe, nomeado High-Level Climate Champion. Além de presidente da Iochpe-Maxion, grande empresa de autopeças, também é diretor de várias grandes empresas e vice-presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP). Tem um histórico de ter liderado o Business 20 (B20) quando o Brasil foi presidente do G20, em 2024, com grande poder de influência nacional e internacional.
O Sr. Ioschpe dialoga com países e empresas representando a presidência, implementando a agenda de ação alinhada com o GST e objetivos nacionais (NDC). É esperado como "mediador" para envolver o mundo empresarial internacional e acelerar o financiamento climático e a transição energética.
▪️Possibilidades Trazidas pela Colaboração entre Empresas e ONGs Ambientais
No seminário, também foram apresentados exemplos de colaboração de empresas japonesas e globais com a CI Japão. Incluem o projeto JCM-REDD+, da Mitsui, REDD+ jurisdicional através da colaboração entre empresas e governo em Tocantins, cooperação técnica com Sustentacraft (apoio JICA/IDB-LAB), projeto de restauração florestal da Daikin, padrões de aquisição sustentável da Starbucks. Também foi apresentado um exemplo de colaboração da Sony no desenvolvimento de mensagens ambientais.
A parceria entre ONGs ambientais e empresas é diversa, incluindo RSE, garantia de sustentabilidade da cadeia de suprimentos, uso de créditos de carbono, cooperação técnica, financiamento internacional, uso do poder da marca etc., mostrando que as empresas podem participar de forma flexível aproveitando suas próprias forças.

▪️Financiamento Climático e TFFF – Significado para o Brasil
O que foi repetidamente enfatizado no seminário foi o destino do financiamento climático. As soluções baseadas na natureza (NbS) têm potencial para responder por 30% da redução de gases de efeito estufa, mas os recursos alocados são apenas 3%. Na Amazônia, há uma carência anual de US$ 70 bilhões (estimativa do Banco Mundial), e preencher essa lacuna foi apontado como questão central da COP30.
Uma das soluções é o Tropical Forest Forever Fund (TFFF). Visa um mecanismo que coleta recursos de baixo custo de países e investidores para investir, distribui os rendimentos para países florestais conforme os resultados, entregando mais de 20% diretamente aos povos indígenas e comunidades locais. A concepção foi apresentada pelo governo Lula na COP28 de 2023, e até agora 12 países, incluindo Alemanha, Noruega, Colômbia e EAU, demonstraram interesse. O Brasil anunciou formalmente uma contribuição de US$ 1 bilhão em setembro de 2025, tornando-se o primeiro compromisso nacional do TFFF. Foi uma forma de mostrar à comunidade internacional a determinação de "primeiro dar o exemplo".
A característica do TFFF é que, diferentemente da ajuda tradicional liderada por países desenvolvidos, países de florestas tropicais, começando pelo Brasil, estão envolvidos de forma proativa no desenho institucional. Para o Brasil, tem significado estratégico de usar a conservação amazônica como carta diplomática, desempenhar o papel de mediador entre países desenvolvidos e em desenvolvimento, compatibilizando interesses nacionais e bem público global. O TFFF é um dos resultados da COP que a comunidade internacional observa com atenção.
A Sra. Lamonica concluiu dizendo:CI BrasilAmérica do Sul "a palavra-chave é implementação" e enfatizou que como entregar recursos de forma justa e eficaz no campo é a maior questão.

▪️Resumo
O que ficou claro através desse seminário é que a COP30 será uma conferência centrada na execução, não se limitando às negociações. O Brasil, como país presidente, apresenta a Amazônia à frente e estabelece três prioridades – refortalecimento do multilateralismo, aceleração da implementação do Acordo de Paris e conectar a ação climática à vida cotidiana.
O financiamento climático, particularmente novos mecanismos como o TFFF, é chave para determinar se o Brasil pode exercer liderança na diplomacia ambiental. Além disso, a participação de empresas e sociedade civil na agenda de ação é o núcleo para conectar as negociações a "mudanças no campo" e posicionar a COP30 como uma conferência de implementação.
Para as empresas japonesas também, a COP30 não é um evento distante. As possibilidades de participação são amplas – cadeia de suprimentos, cooperação técnica, investimento, comunicação – e seu impacto é grande. Participar do "Mutirão Global" originado do Brasil será uma escolha que molda não apenas a ação climática, mas a competitividade futura. (Texto/Mayuko Elias Takeda)