Ensaio dos Voluntários da JICA: Relatando sobre as comunidades nikkeis do Brasil (47) O que não fica registrado nas partidas, por Ritsuki Hasegawa (Brasil Nihon Kiin)

Os jogadores de go frequentemente fazem anotações chamadas kifu para registrar os movimentos de uma partida.

Isso é principalmente para examinar posteriormente se os movimentos foram bons ou ruins, e, no caso de jogadores profissionais, essas anotações são apreciadas e vistas por muitas pessoas. No entanto, no processo de uma partida de go se tornar um kifu, muitas coisas acabam sendo perdidas.

Por exemplo, quantos minutos foram gastos neste movimento, o que estava pensando, com qual movimento estava hesitando. Esse movimento foi jogado com convicção ou foi uma jogada de desespero buscando confundir o oponente por pessimismo sobre a situação?

Desculpe, seria elegante se fosse realmente assim, mas infelizmente nós, amadores, não estamos tão concentrados. No máximo, dizemos "está frio hoje" ou, enquanto o oponente está pensando, olhamos distraídos para o verde através da janela, é mais ou menos isso.

Bem, não há necessidade de registrar essas coisas no kifu...

Mas não, a vida no Brasil já passou de um ano, ponto de virada.

Na verdade, para mim, agora o que tem valor é justamente isso:

o "tempo que não fica registrado no kifu".

Naquele dia, os que se reuniram foram cerca de dez jovens.

Na sala de estar de cerca de 18 metros quadrados, ficou um pouco apertado, mas, ao contrário, essa proximidade gerava um calor reconfortante.

Nordeste do Brasil, viagem de trabalho para Recife. Vim ensinar go nessa cidade.

Por coincidência, aquele dia era um dos dois dias importantes de oração do ano para a igreja Tenrikyo, onde eu estava hospedado. Não apenas os fiéis, mas também seus parentes e amigos foram convidados, e foi organizado um grande jantar, do qual eu também participei sem cerimônia.

Aproveitei muito da hospitalidade gentil, comendo sushi de atum sem hesitação. Por causa do calor úmido, a cerveja também desceu bem.

Felizmente, durante esse tempo os jovens espalharam a notícia: "Veio um professor de go do Japão", e graças a isso se reuniram nesse pequeno clube de go noturno.

Normalmente empresto o tempo de aula da escola de japonês ou dou instruções no Brasil Nihon Kiin, ao qual pertenço, ensinando dentro de um cronograma com início e fim mais ou menos definidos, mas dessa vez foi diferente.

Aqui não era uma aula de cultura japonesa nem um clube de pesquisa de go.

Trouxe o go, então vamos conversar um pouco enquanto jogamos.

Era mais ou menos assim.

Ensinei rapidamente como jogar go,

mas, mesmo assim, após 15 minutos o go já virou coadjuvante.

Todos colocavam as pedras com movimentos desajeitados, riam dos erros e se alegravam com as vitórias.

E conversavam sobre várias coisas. Foi um tempo animado e divertido.

"Como está a vida no Brasil, você gosta?", a conversa típica dos voluntários JICA se desenvolveu até as diferenças culturais entre os dois países e, no final, até tópicos políticos.

Como curiosidade, a tatuagem "Tanaka" no pescoço de um dos participantes, o Tanaka,

foi muito engraçada. Exagero demais da juventude.

A garota competitiva sentada à minha frente me desafiou várias vezes, pensando seriamente em cada movimento.

Para ela, o go era o protagonista?

Sim, essa sensação. A atmosfera de liberdade.

Penso que o go deve ser assim mesmo.

No mundo, novos entretenimentos nascem continuamente.

Vistosos, glamorosos, estimulantes e, acima de tudo, fáceis de desfrutar.

Nesse contexto, o go honestamente parece estar sendo deixado para trás pelo fluxo dos tempos.

Entretenimentos que se completam dentro da tela se tornaram mainstream, e o tempo de confronto entre pessoas diminui cada vez mais.

Mas é justamente por isso, eu acho.

Separados pelo tabuleiro de go, respirando o mesmo ar que o oponente, acumulando tempo lentamente.

Esse ato em si se tornou algo luxuoso e insubstituível.

Nesta era agitada na qual só eficiência e resultados são exigidos,

o go talvez esteja silenciosamente nos lembrando do valor

de pessoas passarem tempo cara a cara.